Morar sozinho

 

DESFECHO: Morar sozinho

TÍTULO DO ARTIGO: Quem são e como vivem os idosos que moram sozinhos no Brasil

Objetivos

Avaliar a prevalência de idosos morando sozinhos no Brasil, segundo condições de saúde, comportamento e características sociodemográficas.

Justificativa

Percepção de que mudanças nos arranjos domiciliares acompanharam o processo acelerado de envelhecimento na sociedade brasileira. Envelhecer morando sozinho (definido por viver em residências unipessoais), sem o apoio de um parentesco próximo, pode associar-se de maneiras diferentes a vários desfechos de saúde, inclusive a morte.

Metodologia

Estudo transversal que avaliou as informações coletadas pela Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2013. Uma amostra probabilística foi projetada especificamente para permitir inferência estatística para todo o país e cada uma de suas cinco regiões. A amostra foi estratificada por agrupamentos em três estágios: setores censitários (unidades primárias de amostragem), domicílios e indivíduos.

Resultados

Proporção de idosos morando sozinhos no Brasil foi de 15,3% (14,4%-16,2%, intervalo de confiança de 95%) em 2013. Essa proporção variou geograficamente, com a porção mais rica do país (regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste) apresentando valores mais elevados que as regiões mais pobres (Norte e Nordeste). A prevalência de idosos morando em domicílios unipessoais foi 29% maior em mulheres que em homens. Essa condição também foi mais prevalente entre pessoas mais idosas, afetando quase um em cada cinco indivíduos com 75 ou mais anos de idade (p<0,001). Além disso, idosos que moram sozinhos apresentaram uma prevalência significantemente maior de perda auditiva (RP: 1,57; IC95%: 1,27-1,93).

Conclusão

Este estudo descreveu a maior probabilidade de adultos idosos que moram sozinhos serem afetados por piores condições relativas ao estado de saúde, funcionalidade física e comportamento.

Considerações a respeito da associação com os objetivos do projeto DGeroBrasil

Essas informações são relevantes para a política e o planejamento de saúde. Buscar soluções para o declínio funcional na velhice é uma demanda contemporânea relevante para muitos países. Essa tarefa é ainda mais desafiadora no contexto da vida solitária. Estratégias de saúde devem considerar o fornecimento de serviços sociais adicionais para substituir para o apoio domiciliar ausente para os idosos solitários.

Referência do artigo

NEGRINI, E.L.D. et al. Quem são e como vivem os idosos que moram sozinhos no Brasil. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., v.21, n.5, p.542-550, 2018.

http://old.scielo.br/scielo.php?pid=S1809-98232018000500523&script=sci_abstract

 

DESFECHO: Morar sozinho

TÍTULO DO ARTIGO: Vivências de pessoas idosas que moram sozinhas: arranjos, escolhas e desafios

Objetivos

Analisar relatos da vivência de pessoas idosas acerca de morarem sozinhas.

Justificativa

As experiências desse grupo podem ajudar profissionais e serviços de saúde a implementarem o atendimento psicossocial da pessoa idosa na perspectiva da promoção do envelhecimento saudável. Soma-se ainda a existência de poucos estudos que exploraram os motivos desses arranjos de moradia e a formulação de estratégias para superá-los.

Metodologia

Método Clínico-Qualitativo (MCQ), pressupõe então que a coleta de dados seja realizada por meio de entrevista semidirigida com questões abertas, em profundidade; e observação livre e auto-observação, simultâneas.

Resultados

A escolha em residir em um ambiente unipessoal para a pessoa idosa pode estar relacionada a situações do seu contexto de vida atual, como o processo de viuvez, a separação conjugal ou mesmo a ausência de parentes próximos. Entende-se que as mudanças na composição e configuração da família trazem reflexos diretos entre seus membros, em especial quando filhos ou outros saem de casa e passam a morar sozinho. Existem ainda casos em que a pessoa idosa tem a possibilidade de morar com familiares, no entanto, opta por morar sozinha. Isso pode se justificar quando se busca maior autonomia, privacidade e a vivência em um ambiente de maior tranquilidade, aspectos apontados pelos participantes do estudo como as principais vantagens de morarem sozinhos. O fato de morar sozinho pode desencadear o aumento da sensação de solidão, levando, em alguns casos, a um quadro psicopatológico de depressão. Por vezes, se identifica no indivíduo o receio de desamparo por medo de acidentes ou doenças inesperadas quando sozinho em casa, a incerteza quanto ao futuro, considerando o receio de quem cuidará deles em caso de necessidade. O grupo de convivência na terceira idade constitui outra estratégia de integração e inclusão social voltado a essa faixa etária, estando presentes na maioria dos municípios brasileiros. A vivência no grupo estimula o resgate da autonomia, o viver com dignidade e no âmbito de ser e estar saudável nessa fase. No entanto, as pessoas idosas participantes desta pesquisa demonstraram uma postura mais receosa a esses espaços. Na ida ao serviço de saúde ou procura por assistência médica, identifica-se um certo grau de dependência por parte da pessoa idosa, sendo necessário alguém para acompanhá-la nesses momentos. Quando se vivencia com mais intensidade o sentimento de solidão, a dependência se torna mais perceptível, requerendo a figura de outa pessoa ou companhia para lhe dar atenção, carinho e apoio na realização das atividades básicas do dia a dia, como preparo da alimentação, lavar roupas, conversar e até mesmo dar seus remédios no horário certo.

Conclusão

O arranjo domiciliar unipessoal no contexto das pessoas idosas constitui um fenômeno social complexo e multifacetado, considerando os aspectos intersubjetivos presentes nas experiências individuais ao longo da vida. Observou-se que o morar sozinho para os participantes do estudo reflete diretamente as adaptações e desafios enfrentados no processo de envelhecimento, seja na realização de escolhas individuais, na conjugação das relações familiares, na tessitura cotidiana de sociabilidade e convívio interpessoal, ou mesmo na produção do cuidado de si. Embora os domicílios unipessoais possam representar uma conquista quanto a autonomia e independência com o avançar da idade, as pessoas idosas que residem sozinhas se tornam mais vulneráveis nas questões ligadas à saúde e ao adoecimento. Adentrar nessa realidade, permitiu conhecer de maneira ampliada significados e vivências desse grupo em particular, identificando-se os distintos modos que lidam com essa fase, bem como os condicionantes imbricados na produção de saúde e do autocuidado.

Considerações a respeito da associação com os objetivos do projeto DGeroBrasil

Reforça a necessidade da promoção de um atendimento mais adequado e sensível às necessidades das pessoas idosas em domicílio unipessoal, atentando-se aos aspectos psicossociais envolvidos. Reforça-se a necessidade de uma maior sensibilização dos profissionais no cenário de atenção a pessoa idosa que vive sozinha, tendo em vista as necessidades específicas deste grupo, buscando-se fortalecer as ferramentas de cuidado em saúde ligadas a escuta ativa e qualificada, a criação do vínculo, acompanhamento domiciliar e atendimento psicossocial, essenciais na promoção do envelhecimento saudável.

Referência do artigo

ALMEIDA, P.K.P et al. Vivências de pessoas idosas que moram sozinhas: arranjos, escolhas e desafios. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. v.23, n.5, e200225, 2020.

https://www.scielo.br/j/rbgg/a/SyXwdhHBt9jSL9sPjgnw5nJ/?lang=pt